terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Aceitação


Não resisto a partilhar este artigo que descobri no histórias de pé . Nada como um pai para falar de aceitação. Leiam.

"Costumo dizer que a aceitação é o primeiro grande passo para a efetivação do desenvolvimento da pessoa com autismo. Apesar disso, esse é um processo muito difícil. Os pais das crianças com autismo não se preparam para receber essas crianças. Como sabemos, não há exame capaz de identificar o autismo no período da gravidez. Essa família escuta a gestação inteira que está tudo bem com o bebê, que a gravidez está transcorrendo normalmente, que todos os exames estão perfeitos... E essa família sai da maternidade com uma criança ‘típica’ no colo. Uma criança que vai engatinhar, que vai dar seus primeiros passos por volta dos 10 meses, que vai falar mamãe e papai perto de 1 ano de idade, que vai apontar, imitar, brincar imaginativamente, que vai compartilhar olhares, te chamar para brincar... E aí quando esses marcos começam a atrasar, quando a família começa a perceber que o olhar daquela criança é um pouco disperso, que ela não busca outras crianças para brincar, que seus interesses são restritos, que ela não dá função a certos objetos, que não há aquela “cumplicidade” tão esperada entre os pais e a criança... que a troca de olhares não acontece... Aí chega a angústia. Esse é um momento muito difícil sim. É um momento de indefinição, de medo, de desconhecimento do que está por vir. E aí chega a tão famosa frase: “normal... cada criança tem seu ritmo”. Essa frase realmente cai como uma luva para nós nesse momento... É perfeita para o boicote que tentamos fazer com a gente mesmo... E fica melhor ainda quando essa frase vem do pediatra... Era só o que precisávamos para enterrar de vez qualquer dúvida que ainda ousasse permanecer. Será?

A gente sabe o quanto esse primeiro contato, como essa ‘sensação’ de que algo está diferente é doloroso... Mas a verdade é que negar não vai resolver o problema. Aliás, isso se aplica a tudo, né mesmo? Negar nunca resolve nada. Só alimenta as neuroses e torna a coisa ainda maior. E no caso do autismo é ainda um pouco mais complicado. Cada segundo de nossa negação pode representar a privação do desenvolvimento do outro. Olha que sério! Não é à toa que a intervenção precoce no autismo é tão importante. Quanto mais cedo oferecemos tratamento adequado, melhor pode ser o prognóstico dessa criança... melhor será a adaptação dela às práticas diárias da sociedade. Essa é a primeira grande questão da aceitação – aceitar para oferecer uma melhor qualidade de vida para essa pessoa... Mas junto com essa questão central, vêm outras tão importantes quanto, e que também auxiliam. Vamos escrever em tópicos para que ninguém deixe de ler. 


O que muda quando aceito o autismo do meu filho?
Antes de mais nada, você está sendo responsável e oferecendo ao seu filho um direito inalienável– o de se desenvolver ao máximo dentro de suas potencialidades! Isso não pode ser negado a nenhum ser humano.
Quando você aceita que seu filho tem autismo, você se abre a um universo novo e riquíssimo, e poderá aprender muito com sua criança, vivendo momentos maravilhosos, que só a aceitação poderá proporcionar.

Você começa a perceber que o conceito de ‘normalidade’, tão reproduzido por todos, não faz sentido nenhum! Que a diferença não pode ser tratada como ‘anormalidade’ e nem algo ruim.

Você vai aprender a “ler” o seu filho. Vai entender que a fala é necessária, mas que na ausência dela, vocês continuarão se comunicando e com imensa perfeição.

Você entende o verdadeiro significado da palavra respeito, e percebe que precisamos aceitar o tempo do outro se queremos nos divertir ao lado dele...

Entende que para brincar com seu filho você não precisa de brinquedos caríssimos, de muito dinheiro... basta vontade de estar junto e aprender a brincar como seu filho gosta de brincar!

Você aprende que nem sempre as coisas serão na hora que você quer e como você quer... que a paciência é uma virtude e que você vai desenvolver.

Você vai perceber que sua tolerância ganhou uma dose extra. Que sua capacidade de compreender o outro é muito maior do que você pensava, e que seu amor por aquela criança é tão gigante que você é capaz de resgatar o que há de mais puro e verdadeiro em você em nome desse amor.

Vocês serão melhores amigos, e o seu amor por ele será a grande fonte do desenvolvimento do seu filho.

Você vai ter ao seu lado a pessoa mais verdadeira de todos os tempos, aquela que dificilmente pensará uma coisa e dirá outra.

Você poderá ser o maior especialista do seu filho. Será a pessoa que melhor o conhecerá.

Você poderá ser parceiro dos profissionais que cuidam de seu filho, ajudando-os com informações que só você tem.

Sem dúvida alguma, a aceitação proporcionará os momentos mais felizes da vida de vocês.

Quanta coisa boa pode acontecer quando aceitamos, quando deixamos de lado nossos medos, preconceitos e ideias prontas. ... Quando aceitamos seu autismo, dissemos a ele que o nosso amor estava para muito além de padrões, de expectativas sociais, de planejamentos... O nosso amor por ele não tinha rótulo. É um amor incondicional que ultrapassa barreiras, limites e principalmente conceitos bobos de normalidade.

Mas cabe aqui uma diferenciação muito importante. cabe aqui não confundir ACEITAÇÃO com ACOMODAÇÃO. Uma coisa não tem relação alguma com a outra. Aceitar é ter consciência das dificuldades e oferecer as condições necessárias para que esses aspectos possam ser desenvolvidos. Nada tem relação com deixar pra lá, com negligenciar tratamentos, com naturalizar o autismo a tal ponto que se torne “um modo de ser”... pois não é. Autismo é um transtorno, recentemente classificado também como deficiência, em função de, em determinados graus, comprometer a independência da pessoa, e deve ser tratado. Obviamente, não são tratamentos para “acabar” com o autismo, pois essa é uma condição inerente ao indivíduo e estará sempre presente em seu comportamento. Não existe ‘ex-autista’, existe sim pessoas que receberam tratamentos adequados e conseguem transitar pela sociedade de forma independente, livre e feliz. Por isso, não negligencie as necessidades de sua criança. Não permita que preconceitos e medos atrapalhem o futuro de seu filho. Hoje, ele precisa muito de você. Seja suporte, amor e alegria."
artigo original

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