quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Problemas de sono


A queixa de insónia ou recusa de iniciar e manter o sono é geralmente trazida pelos pais de crianças autistas de forma dramática no consultório pediátrico.

As pesquisas atuais mostram que crianças com transtornos do espectro do autismo (TEA) sofrem com problemas de sono numa proporção bem maior do que crianças com desenvolvimento típico. As estimativas de prevalência de problemas de sono nestas crianças são da faixa de 44% a 83%.

Há um crescente reconhecimento de que abordar estes problemas de sono podem melhorar o funcionamento diurno e diminuir o estresse familiar. A alta prevalência de problemas de sono em crianças com TEA e as consequências negativas de sono inadequado, faz da intervenção apropriada uma prioridade urgente para muitas famílias.
A arquitetura do sono em crianças com TEA em exames de polissonografia apontam uma maior latência para dormir, mais despertares e menor eficácia do sono. Outra queixa típica de pais de crianças com TEA é o “night walking”, algo semelhante a um “passeio noturno” que consiste em despertar durante a noite e ficar andando pela casa, rindo, gritando, falando, brincando com objetos, costuma ter duração de duas a três horas e está associado à higiene do sono inadequada.
A higiene do sono consiste em estabelecer uma rotina para a noite, determinar uma hora apropriada para dormir, minimizar estímulos internos como televisão, computador e vídeo game e externos como barulho e luminosidade. Alimentação balanceada com alimentos leves, diminuir cochilos durante o dia. Se maus hábitos de sono não são reconhecidos e tratados, outras intervenções do sono não são susceptíveis de serem bem sucedidas. Assim, melhorar os hábitos de sono deve ser sempre a primeira linha de tratamento.
A causa mais provável dos problemas de sono em crianças com TEA é multifatorial, decorrente de uma interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, ambientais, comportamentais e familiares. Estudos têm demonstrado que diversos fatores podem estar envolvidos, tais como a desregulação da síntese de melatonina, a sensibilização aos estímulos ambientais, síndromes comportamentais e comorbidades associadas como ansiedade, hiperatividade, déficits no processamento sensorial e a epilepsia compreendem fatores etiológicos comuns.
Os distúrbios do sono ocorrem em toda variação clínica do espectro do autismo, entretanto é mais comum quando associado à deficiência intelectual moderada a grave. As crianças com TEA e problemas de sono tendem a ter sintomas de autismo mais graves, tais como comportamentos estereotipados, dificuldades sociais e sintomas emocionais, bem como mais problemas de comportamento do que aquelas que não têm problemas de sono.
Os resultados das pesquisas sugerem que as crianças que dormem menos horas por noite apresentam um comprometimento maior nas habilidades verbais, na socialização e no funcionamento adaptativo em geral.
Ambas as intervenções farmacológicas e comportamentais têm sido sugeridas para o tratamento de problemas de sono em crianças autistas. Para reduzir o “night walking” usar o quarto como limite, retirar estímulos (brinquedos ou objetos que elas gostam de brincar) do quarto na hora de dormir, desenvolvendo habilidades de autocontrole e extinção gradual dos “passeios”.
Os pais de crianças com TEA preferem abordagens comportamentais mais do que medicamentos que aumentam o sono. Além do impacto direto das intervenções comportamentais na criança, estas também mostraram aumentar a sensação de competência dos pais, controle e capacidade de lidar com os problemas. Apesar dessas vantagens, as intervenções comportamentais não são oferecidas as essas famílias tão frequentemente quanto os tratamentos farmacológicos.
Uma vez que os pais estejam envolvidos na fixação de limites e na melhora dos hábitos de sono das crianças, a educação deles é fundamental. Para as crianças com TEA, as práticas de higiene do sono podem precisar ser adaptadas para atender às necessidades únicas da criança e da família. Por exemplo, as crianças com TEA geralmente respondem bem a rotina, mas algumas se tornam excessivamente preocupadas com detalhes de rotinas. Alguns sugerem a introdução de pequenas variações em elementos (por exemplo, a criança usar diferentes pijamas) para evitar que a rotina se torne um ritual inflexível.
A medicação mais estudada para esse tipo de problema é a melatonina, cuja ação diminui a latência do sono, aumenta a duração do sono total e diminui a variação da hora de dormir entre os dias. Outras opções são: antidepressivos, anti-histamínicos, indutores do sono e benzodiazepínicos, estes dois últimos podem desenvolver efeito de tolerância e dependência.
A medicação deve ser utilizada de forma criteriosa e quando as técnicas anteriores não surtirem efeito. Embora estudos controlados sejam limitados, há mais dados que demonstram a segurança e eficácia da melatonina no TEA do que para outros medicamentos hipnóticos sedativos.
Conhecer as características individuais das crianças com TEA e as preferências e competências das famílias se faz necessário para adaptar esses procedimentos. Por fim, foi sugerido um duplo tratamento para insônia no TEA com melatonina e técnicas comportamentais.
Dr. Paulo Alves Junqueira – CRM-SP 53.599Neurologia da infância e adolescência, Mestre em neurologia pela Faculdade de ciências médicas da Universidade de Campinas – Unicamp

artigo retirado daqui

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