
Há cinco anos, Rodrigo Tramonte, 35, foi diagnosticado tardiamente com Síndrome de Asperger, um tipo de autismo de grau leve. Com facilidade no traço, ele trabalhou com publicidade, sendo cartoonista e caricaturista. Atualmente, ele trabalha em casa, focado nos cartoons, e nesta quinta-feira, ele realiza um sonho: lança seu primeiro livro em quadrinhos, o "Humor Azul, O Lado Engraçado do Autismo". O evento acontece às 19h30, no CIC (Centro Integrado de Cultura), em Florianópolis.
O livro tem o objetivo de auxiliar crianças e adultos autistas e pais e familiares de pessoas com essa síndrome. “O personagem principal, o Zé Azul, é abertamente autista. Algumas situações dele são autobiográficas, mas eu adaptei em forma de tirinha, e outras são histórias que ouço ou me contam via rede social em grupos e ONGs de autistas”, explica Tramonte, que também dá palestras sobre o tema.
O incentivo maior para fazer o livro focado no autismo veio de Andrea Monteiro, da ONG Projeto Autonomia, que Rodrigo faz parte. “Tenho certeza que o livro vai ajudar muitas idades, porque tem um humor parecido com os livros da Mafalda, Chaves, Calvin e Turma da Mônica, e o personagem principal é apaixonado por “Batman””, conta ele, um apaixonado também por desenhos animados antigos, como “Tom e Jerry” e a “Pantera Cor de Rosa”. O autor revela que dois personagens são inspirados em pessoas reais de sua vida: a sua mãe, que também é a mãe do Zé na obra, e Romeu, o melhor amigo de Zé, que é Romeu Martins, roteirista na vida real, e amigo de Tramonte.
“Eu uso o Zé Azul para mostrar a realidade do autista para ir ao médico, ao supermercado, por exemplo, por que ele tem uma visão muito sincera e direta das coisas, e por isso ele tem dificuldade em se adequar a algumas regras ocultas do convívio em sociedade”, explica Rodrigo, dando como exemplo ainda o problema que eles têm em olhar diretamente nos olhos das pessoas. Quando o autista foca em algo, é difícil tirar a atenção dele.
O trabalho criativo de Tramonte começou em janeiro de 2014. O livro tinha previsão de lançamento para metade deste ano, mas o desenhista também participa de outros projetos relacionados à síndrome. Tramonte revela ainda que a concentração no livro foi difícil, já que é da natureza do autista ter essa deficiência.
Durante o lançamento será feita a distribuição gratuita do livro, coquetel concedido pelo Outback Steakhouse, apoiador do projeto, show com o músico autista Milton Almeida, e a presença de diversos representantes de instituições pró-autismo, e de crianças e adultos autistas.
Sensíveis sim
O desenhista explica que cada autista é único. Nem todos terão as mesmas habilidades, como o caso dele, que é para o desenho. Outra característica do autista é a sensibilidade sensorial. Em Tramonte, os sons altos, ruídos, luzes e algumas dores são sentidas com maior intensidade. “Pessoas comuns conseguem filtrar os sons, os odores, mas o autista costuma receber tudo de uma vez, e por isso eles têm essa necessidade de isolamento. Às vezes eles vão em lugares públicos e ficam muito sobrecarregados e depois precisam se recarregar”, acrescenta ele.
Em torno da síndrome há diversos mitos, como o que dizem sobre o humor deles. “Cada autista é de um jeito. Muitos sabem rir, tem expressões faciais. Outros são mais bravos e tem essa dificuldade, que para maioria é complicado, de expressar sentimentos. Eles gostam mais de falar sobre coisas concretas”, diz Tramonte. As crianças, por exemplo, costumam se apegar a brinquedos, como trens e dinossauros, e ai falar. Elas dificilmente vão contar sobre o passeio no parque ou o dia na escola, segundo o desenhista.
Pode encontrar o Rodrigo aqui no facebook
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